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A social democracia nos EUA

A social democracia nos EUA

 

Carlos Alberto Sardenberg

 

Winston Churchill dizia que a democracia é a pior forma de governo, exceto todas as outras.

O presidente da China, Xi Jinping, acredita que o “modelo chinês” atual é a prova de que há algo superior à democracia ocidental. Promove crescimento acelerado e todo ano tira milhões de pessoas da pobreza.

Já o presidente Joe Biden está lançando um enorme programa social democrata – investimentos públicos financiados com aumento de impostos – para provar que é possível combinar crescimento e justiça social em ambiente democrático.

O leitor terá notado que há aqui alguma confusão entre política e economia. É que na época de Churchill se entendia que democracia só combinava com capitalismo, com sua liberdade de empreender.

E, claro, socialismo só podia combinar com ditadura.

Tem outra frase de Churchill sobre isso: “O vício inerente ao capitalismo é a distribuição desigual de benesses; o do socialismo é a distribuição por igual das misérias.”

Acontece que a China está ficando rica, sendo uma ditadura política, com uma economia meio estatal (socialista), meio privada. Na verdade, hoje, a maior parte do PIB chinês é produzida pelo setor privado.

Enquanto isso, no Ocidente das últimas décadas houve experiência no sentido contrário: ditaduras de direita com capitalismo, com a promovida pelo golpe de 64 entre nós.

Já a Europa desenvolveu a social democracia, uma combinação de capitalismo com forte intervenção do Estado nas questões sociais (saúde, educação, previdência) e em negócios considerados estratégicos.

Tudo considerado, Biden dividiu as coisas assim: a autocracia chinesa versus a democracia americana em novo modelo. Para Biden, o capitalismo americano liberal, praticado nas últimas décadas, gerou muita riqueza, mas com clara desigualdade de oportunidades e renda. Resumindo, os ricos ficando mais ricos e as classes médias e pobres estagnadas ou piorando.

Essa é a virada que ele quer fazer: manter um capitalismo pujante e empreendedor, com melhor distribuição de oportunidades por meio da intervenção do Estado.

Ele pretende gastar, em oito anos, nada menos que US$ 3 trilhões em obras de infraestrutura, pesquisas de ciência e tecnologia e “apoio às famílias”. Esta última parte ainda não foi especificada, mas se supõe que seja apoio à saúde e à educação dos mais pobres.

O dinheiro deverá vir de aumentos no IR das empresas e das pessoas mais ricas. Acredita que em 15 anos, todos os três trilhões estarão pagos, portanto, sem aumento da dívida pública.

O obstáculo que enfrenta é justamente aquilo que os autocratas definem como o “defeito” das democracia: a definição de consensos. Ou seja, o programa tem que ser aprovado no Congresso e já conta com forte oposição do Partido Republicano.

Aliás, Churchill tem um comentário sobre isso: “O que eu espero, senhores, é que depois de um razoável período de discussão, todo mundo concorde comigo.”

Como não é assim que funciona, Biden está de fato iniciando uma importante experiência.

E por que estamos tratando disso aqui, neste momento? Porque, primeiro, tem sido quase impossível formar consensos, mesmo em questões de ciência; segundo, toda vez que o Estado aumenta gastos, acaba gastando mal e com dívida; terceiro, temos uma democracia que não gera bons governos; e, quarto, fizemos um capitalismo de compadres – de ladrões mesmo.

É por isso que as ideias autoritárias ou autocráticas, de direita ou esquerda, ganham espaço.

Em compensação, surge também algo que alguns chamam de “liberalismo social”. Assim: o capitalismo é superior ao socialismo na geração de riquezas, mas o Estado deve intervir para igualar as oportunidades (por exemplo, escola pública e saúde pública boa para todo mundo) e distribuir renda por meio de programas sociais (Bolsa Família) e um sistema tributário mais justo.

Vamos prestar atenção no programa Biden.