A MATEMÁTICA E O PIB

. Capitalismo e escolas

O que tem a ver o péssimo desempenho em matemática dos alunos paulistas com o Produto Interno Bruto?
Tudo, uma relação direta. Toda vez que a economia brasileira deslancha, topa com a falta de mão de obra qualificada. E qualificada, no caso, não se refere a uma formação técnica, como a de operador de tratores com comando computadorizado. Trata-se, no essencial, de conhecimento adequado de português e matemática. Adequado significa ler e entender um manual de operações e fazer as contas necessárias para operar o instrumento.
O secretário de Trabalho de S.Paulo, Guilherme Afif Domingos, vai divulgar na próxima quarta-feira um amplo estudo sobre o mercado de trabalho paulista. Uma das conclusões que se pode adiantar: metade das pessoas entre 30 e 45 anos, portanto, no auge da condição de trabalho, não tem ensino fundamental.
Ora, se as crianças que estão no ensino fundamental não estão aprendendo matemática, o que dizer do pessoal que nem tem esse nível de escolaridade?
Por isso se chegou a esta situação: um número grande de desempregados (8% de taxa de desemprego é muito para um país emergente) e ao mesmo tempo muitas empresas que não conseguem preencher vagas.
O outro problema está no nível de investimentos. Foi de comemorar o resultado de 2007. A forte expansão levou a relação investimentos/PIB para 17,8%. Mas sabem quanto é a média na América Latina? De 22%. E olhem que a AL é uma região de baixo crescimento.
Na China, o investimento chega a 40% do PIB. Como é que eles conseguem? Curto e grosso: porque o gasto chinês com previdência pública é perto de zero porque lá não tem Bolsa Família nem programas sociais amplos porque toda universidade pública é paga porque boa parte da educação fundamental e da saúde básica também é paga. E assim vai.
Está certo que não queremos um país sem rede de proteção social. Mais certo ainda que é politicamente impossível reduzir uma rede social já instalada.
Portanto, nas circunstâncias brasileiras, o investimento público em infra-estrutura será necessariamente baixo. Foi aprovado na semana passada o orçamento do governo federal para 2008. Para despesas gerais em torno de R$ 680 bilhões, os investimentos previstos ficam em torno de escassos R$ 30 bilhões.
Para alcançar o nível de investimentos da América Latina, o Brasil precisaria poupar mais R$ 100 bilhões/ano, aos números de 2007. Não há hipótese de se conseguir isso pelo setor público, cujos gastos estão concentrados em pessoal, previdência e custeio, incluindo os programas sociais.
O setor privado, nacional e estrangeiro, já responsável por investimentos de 16% do PIB, tem como mobilizar mais de 100 bilhões adicionais. Para isso, é preciso um amplo programa de privatização e reformas institucionais que facilitem a vida de que quem fazer negócios honestamente no país.
Mas é preciso urgência para fazer um canteiro de obras no país. Um de verdade, não o que aparece na propaganda do PAC.
É ainda mais urgente a questão da educação. Aqui, ao que parece, não faltam gastos. Falta eficiência. Também não pode ser tratada como uma questão rotineira. Precisa-se de uma revolução.
Eis a fórmula: investimentos privados e escola pública de qualidade.

E por falar em
infra-estrutura

A propósito da coluna da semana passada, recebi email da Infraero que relata providências em andamento pela estatal. A saber:
. para Florianópolis, está em processo de licitação o Plano Básico Ambiental do canteiro de obras do novo terminal e há estudos prévios à licitação de pátios, pistas e terminal de passageiros
. o Ministério da Defesa desistiu da terceira pista de aeroporto de Guarulhos, optando por ampliar Viracopos
. as obras em Campinas devem ser iniciadas em 2009 com investimentos de R$ 500 milhões o objetivo é fazer de Viracopos o maior aeroporto do hemisfério sul em 2029 já foi assinado convênio com a prefeitura de Campinas, com vistas à futura desapropriação de uma área para a nova pista.
Comento eu: com todo respeito, as explicações confirmam o sentido geral da coluna sob o título ?Tudo bem?. O governo trata a infra-estrutura como coisa de rotina, normal. A obra principal para o sistema aeroportuário brasileiro, Viracopos, começa em 2009, se der tudo certo com desapropriações, licenças etc.
E começa com a mixaria de R$ 500 milhões. Para ficar pronto em 2029!
É o ritmo do governo. Um pouco pela inércia administrativa e muito pela falta de dinheiro. E muitíssimo pela miopia ideológica. A concessão de um aeroporto para a iniciativa privada mobilizaria de imediato bilhões de reais e mais a energia das companhias nacionais e inter nacionais.

Crise global
Dois fatores determinam esse sobe-e-desce das bolsas de valores mundo afora: desconhecimento e medo.
O desconhecimento: qual o tamanho dos prejuízos dos grandes bancos globais e como vão cobrir essas perdas?
O medo: a recessão nos EUA, se houver, será de qual tamanho e como atingirá os demais países?
Não há nada pior que uma crise bancária num sistema movido a crédito. Esse crédito já encolheu por causa das perdas dos bancos (com menos capital, têm menos para emprestar a empresas e consumidores). E encolhe mais por causa da desconfiança: quem está com os micos?
O medo é consequência desse desconhecimento e de um outro: como reagirá o mundo novo?
Sim, porque há um mundo novo depois da revolução da Tecnologia da Informação e da Comunicação, da produção espalhada por vários países, da consolidação da China como potência econômica e foco autônomo de crescimento e da incorporação dos países ex-socialistas ao capitalismo global.
Esse novo mundo pode conter a crise, mas também pode globalizá-la.

Publicado em O Estado de S.Paulo, 17 de março de 2008

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