A Arábia Saudita é a maior exportadora de petróleo, dona das maiores
reservas. Logo, deve ser de seu interesse o maior preço possível para o óleo, certo?
Errado, neste momento ao menos.
Acontece que tem o petróleo naturalmente barato – aquele fácil de extrair, que brota da terra, como o saudita – e o caro – aquele só encontrado nas profundezas do mar, como o nosso do pré-sal, nas rochas de xisto ou nas areias betuminosas. Pois a produção desse petróleo caro e difícil está em alta no mundo todo, favorecida, economicamente, pelo elevado preço do barril verificado nos últimos anos.
Nos EUA, por exemplo, ocorre o boom na exploração de óleo de xisto. A produção cresceu tanto que o país reduziu as compras externas, deixando posto de maior importador global para a China. O Canadá, também dependente de importações, acelera a extração de óleo de areias. E a Petrobrás deu a partida na exploração do pré-sal.
Pois justamente agora o preço do barril está em queda – e queda forte. De mais de 100 dólares dos últimos tempos, a cotação nos EUA e em outros mercados internacionais caiu para a faixa dos 70 dólares, ficando até abaixo disso em diversos momentos. Com a economia mundial em marcha lenta, o consumo de energia cresce abaixo da produção, que havia sido estimulada pelo forte expansão global do início deste século e, especialmente, pelo crescimento dos emergentes.
Demanda em baixa, oferta em alta, lá se vão as cotações.
Vai daí, alguns membros da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), como Venezuela e Irã, começaram a pressionar o grupo para reduzir a produção e, assim, forçar uma alta de preços. A Opep coloca no mercado cerca de 30 milhões de barris/dia, mais ou menos um terço do consumo global. Tem, pois, o poder de calibrar as cotações.
Mas, surpresa, a Arábia Saudita, que lidera o grupo e tem capacidade de aumentar sua produção quase imediatamente, derrubou a proposta.
Tem lógica. O preço baixo reduz a rentabilidade do petróleo “difícil” e inviabiliza muitos projetos. Por exemplo: o óleo das areias do Canadá só é rentável se puder ser vendido a 80 dólares o barril. No pré-sal brasileiro, segundo avaliação de consultorias locais e internacionais, o custo de produção vai de 40 a 70 dólares, conforme o campo e o contrato de exploração. Nos EUA, algumas companhias dizem que 60 dólares é o limite para muitas áreas.
Para registrar: no seu ambicioso programa de investimentos no pré-sal, até 2020, a Petrobrás considerou o barril de óleo a 105 dólares hoje, caindo para 100 e depois para 95. Também considerou o dólar numa média futura de R$ 1,95.
Tudo considerado, há uma perda de rentabilidade se as cotações continuarem nos níveis atuais e inviabilidade econômica de algumas áreas se os preços caírem ainda mais. Ou seja, será difícil atrair capital privado, nacional e estrangeiro, para os novos projetos. Mesmo porque o atual regime de partilha cobra pesados pagamentos das companhias que explorem os poços. A Petrobrás já tem campos adquiridos, mas de qualquer modo precisará se financiar no mercado global – e isso estará mais difícil.
É certo que a queda dos preços de gasolina e diesel ajuda bastante o caixa da Petrobrás, importadora líquida de combustíveis. Neste momento, por exemplo, a estatal vende os produtos aqui dentro a preços 20% superiores aos que paga lá fora. Inverte, assim, a relação dos últimos quatro anos.
Mas esse ganho é insuficiente para levantar o capital necessário. O futuro da Petrobrás é a exportação de óleo. O ambiente econômico global, de baixo crescimento, e a descoberta e uso cada vez maior de energia alternativa indicam que o preço do óleo pode permanecer baixo por um bom tempo.
Coloque no cenário a crise do petrolão e se entende por que a Petrobrás se aproxima de uma tempestade perfeita.
Em qualquer caso, e considerando a confusão armada pelo governo no setor elétrico, mais as perdas impostas ao etanol, parece que o país precisa rever suas políticas de energia.
Golpe
Economistas do grupo desenvolvimentista, ou da “nova matriz”, muitos deles instalados no governo Dilma, estão chocados com a designação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda.
O choque é tão ou mais forte do ocorrido em 2003, no primeiro governo Lula, quando Antônio Palocci instalou a nata dos economistas ortodoxos na Fazenda – incluindo o mesmo Levy no posto chave de secretário do Tesouro.
Na ocasião, a ortodoxia funcionou. Hoje, os desenvolvimentistas acham que é diferente e que Levy vai durar pouco.
Dilma é economista e da nova matriz. Mas não teria tomado essa difícil decisão se não precisasse tanto dele.