Quem foi?

Quase todo mundo concorda: enviar ao Congresso um orçamento com déficit previsto para 2016

– no momento em que as agências de classificação de risco estavam de olho na capacidade do governo controlar suas contas – não foi apenas um erro. Foi monumental. 

         Por causa dessa manobra infeliz, o Brasil perdeu o grau de investimento na Standard&Poors e pode ser rebaixado também por outras agências. Ora, quanto tempo levaria para recuperar o grau de investimento? 

         Três anos, se o país fizer tudo certinho, rápido e ter bases econômicas boas; uma década se o rebaixamento o tiver apanhado em más condições gerais, inclusive políticas. 

         Tal é o resultado de pesquisa feita pela economista Julia Gottlieb, do departamento de estudos do Itaú. 

         O Brasil está no segundo grupo, pois cai no grau especulativo com dívida bruta passando dos 70% do PIB (deveria ser menos de 40%), inflação bem acima da meta e baixo nível de poupança. 

         Assim, o governo e as empresas brasileiras poderão ficar muitos anos pagando juros mais caros para obter financiamento externo e tendo acesso limitado aos mercados. Logo, menos investimentos, menos negócios, menos empregos. 

         Esse o tamanho do erro. O próprio governo o reconheceu e saiu com um programa empacotado às pressas para anunciar um superávit (duvidoso) para o ano que vem. 

         Ora, de quem foi a ideia original? Quem disse para a presidente Dilma que não teria nada demais apresentar um orçamento com déficit? 

         Sim, é importante saber, pois esse gênio não poderia continuar no governo. 

         Reparem: há um problema de credibilidade. As agências, os mercados, as pessoas desconfiam da sinceridade e da capacidade do governo em fazer o ajuste das contas. Se no cérebro (?) da administração tem um quadro que pensou tão errado – e continua lá – está claro que se perde ainda mais credibilidade. 

         Os primeiros suspeitos são os ministros Aloisio Mercadante, da Casa Civil, e Nelson Barbosa, do Planejamento. Todo  mundo sabe que o ministro Joaquim Levy lutou contra essa mancada até o último momento. 

         Mas permanece nos meios econômicos e políticos uma ponta, enorme ponta de dúvida. E se a desastrada ideia tiver sido da própria presidente Dilma? 

         Dirão, que saia Dilma. Mas não é assim que cai uma presidente eleita. 

         Mas ficando, por quanto tempo for, a presidente ao menos deveria tentar recuperar sua capacidade de administrar a política econômica. Nesse caso, já está devendo duas desculpas: uma pelos estragos do primeiro mandato; outra pelo orçamento com déficit, mesmo que tenha sido ideia de outro. Ela pegou, não é mesmo? 

         Aliás, se ela não demitiu ninguém por causa disso, é um sinal. Talvez não tenha desejado cometer injustiças. 

         E se foi um auxiliar, não seria razoável esperar algo como,   “Foi mal, desculpaí, já estou vazando”.

 

        

 

        

 

         Buenos Aires 

 

 

         De um fim de semana na capital argentina: 

         Nos caixas automáticos, não se pode sacar em dólares, só em pesos.  Nos hotéis e restaurantes, também não há mais preços em dólares, apenas em pesos. E o pessoal não aceita pagamento em dólares, pelo menos não nos estabelecimentos formais. 

         Em resumo: tanto pra pessoas como para empresas, é muito difícil comprar dólares, seja para pagar importações, seja para poupar – como antes faziam os argentinos. 

         Depois de anos de moratória, há escassez de dólares no país. 

         E tiveram mesmo que dificultar as compras de moeda estrangeiro pelos residentes. “Se não fosse assim, ninguém ficaria com os pesos”, conta um amigo. 

         Por outro lado, nesses locais que recebem estrangeiros, o pessoal explica: a cotação oficial é de 9,80 pesos por dólar, mas se você no “blue market”, troca o dólar por 15 pesos, 50% a mais! Isso barateia e muito a viagem. 

         Fui visitar uma loja de blue market numa galeria da calle Posadas. Não tem placa na porta, mas todo mundo conhece. Um escritório pequeno, sala de espera apertada e outro cômodo estreito com o caixa – computadores e máquinas de contar dinheiro. Dólar a 15 pesos. Euro a 17,50.

 

         Rotatividade enorme. Entra gente a cada minuto – na maioria , estrangeiros, mas também muitos argentinos. 

         Bom, se todo mundo sabe onde é, claro que a Policia Federal também sabe. Parece que deixam algumas dessas casas de câmbio para dar um certo alívio. 

         Na famosa feira de San Telmo, o dólar corre livre. Mas os negócios são desfavoráveis aos turistas. Os comerciantes recebem em dólar a 8,50 pesos e devolvem o troco em pesos. Baita negócio para eles, pois recebem o dólar abaixo da cotação oficial, a 8,50. 

         O ambiente é meio deprê. Muitas lojas e restaurantes fechado. 

         As lojas de vinho continuam ótimas. Na venda para estrangeiros, dão o tíquete para você para receber os impostos de volta – já que venda externa é livre de impostos. 

         Mas é preciso preencher um baita recibo e receber o dinheiro loja da Receita no aeroporto. Avisam: vai com tempo que tem fila. 

         Chegamos domingo à noite – e não tinha fila. A Receita estava fechada.

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